É realmente possível a cessação
consciente do pensamento?
"Tendo tido uma experiência direta da Perene Consciência Amorosa Integrativa, graças a prontificação obtida por meio dessas observações, procuramos transmitir esta mensagem ao pensador compulsivo que ainda sofre e praticar essas observações em todas atividades."
A suspensão do pensamento não constitui um meio de atingira consciência de nosso eu divino; se assim fosse, os epiléticos teriam o poder de um Cristo e os lunáticos possuiriam a sabedoria de um Buda. Mas a verdade é que cobrimos nossa natureza divina de pensamentos e desejos; portanto, devemos passar a descobri-la se quisermos conhecê-la. A diferença, e muito vital, que há entre o lunático que fita o vazio com olhos vítreos, e o místico que fita o vazio aparente com seus olhos brilhantes, é a mesma existente entre aquele que perdeu o poder de pensar mas não atingiu o conhecimento do eu interno, e aquele que venceu a tirania do pensamento e pode suspender à vontade a sua atividade, ao passo que se mantém consciente de seu verdadeiro eu espiritual.
Nossa maneira comum de pensar é qual um pesado véu encobrindo a bela face de nossa divindade interna. Levantemos uma ponta do véu deixando nossa mente repousar como um navio ancorado no porto, e então perceberemos ALGO de uma beleza que jamais esqueceremos.
É realmente possível a cessação consciente do pensamento? A melhor resposta a esta pergunta é um apelo à experiência direta. Os homens que têm explorado as profundezas da mente, chegaram ultimamente a um ponto em que foram compelidos a parar com suas pesquisas, pois seus pensamentos se detiveram num estado de suspensão. Pode-se comparar a mente a uma roda em constante movimento, e o pensamento é simplesmente o resultado automático deste movimento. Se a roda é trazida a um ponto morto, seguramente cessa todo pensamento.
Muitas pessoas inexperientes objetarão que cessar de pensar é fazer cessar a consciência. A experiência efetiva do processo revela não ser isto assim, porém que uma nova e sumamente vívida PERCEPÇÃO eleva a nossa consciência normal. É mister diferenciarmos a PURA CONSCIÊNCIA da simples faculdade de pensar.
A morte é o segredo da vida. Precisamos esvaziar-nos se quisermos ser cheios. Quando a mente tiver esvaziado todos os seus pensamentos, cria-se um vácuo. Mas este vácuo pode durar apenas poucos segundos. Então lhe penetrará um misterioso fluxo de vida divina. É a descida do Espírito Santo.
É neste estado de cessação consciente do pensamento que A VERDADE DO NOSSO EU, até então ocultada de nós pelas atividades, desejos e pensamentos, se revela em sua sublime grandeza espiritual. Detende a corrente de pensamentos, se puderdes, e contemplai firmemente o PENSADOR. Fazei o intelecto cair em repouso, e vigiai atentamente o vácuo na consciência, que parecia restar.
A consciência do Super-eu, equivale ao estado de sono profundo, sem sonhos; é toda frescor e paz, mas ao invés de trevas e esquecimento, há completa PERCEPÇÃO. Se apenas pudermos ser bem sucedidos em levantar a ponta do véu da consciência, que o sono profundo implica, poderemos descobrir o significado do céu e da terra. E tal qual cessa todo pensamento nesse estado, assim também, para o estudante que entrar nesta condição, morrerão necessariamente todos os pensamentos que lhe chegarem. À mente européia (e ocidental) é difícil conceber um tal estado, em que a consciência humana subsiste sem pensamentos, mas poderá constatar isto pela prática e experiência.
(...) Achar a alma significa, simplesmente retornar ao nosso estado original. No remoto passado éramos seres puramente divinos, mas não enleados pelos invólucros do pensamento e corpo. Ainda somos seres divinos, mas estes invólucros posteriores nos fizeram esquecer quem somos. Daí que transpassá-los é ver o nosso próprio eu.
Precisamos EXPERIMENTAR-NOS COMO REALMENTE SOMOS, e não como prisioneiros do corpo, como cativos na gaiola de pensamentos, ou joguetes das paixões transitórias. Nossa consciência está jungida a estas várias formas. Toda a arte de meditação e concentração consiste em livrar-nos de nossas cadeias e alcançar-nos como espíritos libertos.
Num antigo texto indiano deparei com estas linhas:
"Porque abdicara de minha unidade contigo,
Porque, insensato! me identificara com meu corpo,
Porque eu ignorara que habitavas em mim,
Por isso vaguei por infernos hediondos...
Porque alijara meu próprio eu, fiquei encadeado."
Paul Brunton - O Caminho Secreto